13.4.05

Com licença

Que termo tão português, de índole tão mesquinha.
"Com licença" é aquilo que algumas pessoas dizem antes de rasgar uma folha de papel que vão atirar para o lixo. Pedir licença antes de rasgar uma folha de papel? Pessoal, é um bocado de papel e pelos vistos inútil, já que está prestes a ser rasgado. Mas o portuga é uma criatura minúscula na sua pequenez de espírito, daí a pedir licença por tudo e por nada.
Arrotam e pedem licença. Aqui até se come a ideia, mas não é suposto pedir autorização para se transgredir ANTES da transgressão?
Quando vão à casa de alguém e o anfitrião já os convidou a entrar, ainda há aquelas amostras de matéria orgânica que reforçam a sua insignificância com um ubíquo "com licença." Se a pessoa convidou para entrar, então é porque já lhe deu licença, ou não?
Vou a subir as escadas do meu prédio e um vizinho está a entrar em casa ao mesmo tempo. Antes de fechar a porta, manda para o ar um "com licença", como se eu ficasse incomodado por isso e não o autorizasse a fechar a porta da própria casa.
Não, não tem a ver com educação. Pelo contrário, é uma enorme falta de respeito próprio esse vício tão seboso que é o de pedir licença antes de fechar a porta de casa. Não estando ninguém na ombreira da porta a conversar connosco, não percebo como pode ser falta de educação fechar a porta. A porta existe precisamente porque marca um lugar de transicção entre a esfera da vida pública e da vida privada. Enquanto nos tivermos de desculpar a outrém porque transpusémos essa barreira e nos retirámos para a privacidade e refúgio do nosso lar, estamos a atender às prioridades erradas.
Então, o que dizer dos animais nojentos (com respeito à mãe natureza) que entram na carruagem do metro, antes de deixar sair primeiro as pessoas que lá estão? Eu nem vejo necessidade de pedir licença quando isto me acontece. Limito-me a levar à frente e a dar cotoveladas ao maior número possível de pseudo-paredes com olhos na minha trajectória.
Falta umas quantas verdades nas definições que foram feitas acerca do povo deste país: Pátria dos carneiros, terra mãe dos comodistas, reino universal do umbigo.

Já dizia o grande Eça: Portugal não é um país; é um lugar e muito mal frequentado!

2 comentários:

Alexandre Vilarinho disse...

Quem me dera poder pegar na minha casa, levá-la para um país abandonado e esquecido e viver lá os meus diazitos...


Seria tão bom..

Anónimo disse...

Isso não é politicamente incorrecto, é falta de educação.
Como o chá, cada um toma o que quer...