4.5.05

Portuguesinhos coitadinhos

Ontem, findo o jogo entre o Chelsea - Liverpool (charco de fígado) começou o telejornal no canal 1. O pivot encarregado das notícias abriu a boca e deixou voar uma pepita fecal, a qual eu passo a esclarecer: a notícia de abertura de um programa informativo do canal de SERVIÇO PÚBLICO, senhoras e senhores, foi referir a derrota da equipa treinada por José Mourinho. Vamos lá ver se é possível esclarecer isto - futebol NÃO é notícia! O futebol não passa de um jogo e como jogo que é, trata-se de uma falsa realidade. As derrotas e vitórias de uma equipa são inconsequentes em termos de geo-estratégia, factores políticos e sociais, económicos e biológicos.
Mas a tragédia mental não se ficou por aqui. A notícia arranca com um directo, a entrevistar tugas à desgarrada em Inglaterra , perguntando-lhes como viveram a derrota de uma equipa britânica que por acaso (até) tem um treinador português.
Somos deveras pequenos. Tão pequenos que até mete aflição. Ser português não tem nada de especial. É como ser de qualquer outro país, pertencer a qualquer outro povo. É tudo relativismo cultural, meus amigos; tem os seus altos e baixos, há coisas engraçadas e há coisas tristes. Mas agora esta fixação com o "ser português" dá-me asco! Como é que é possível haver orgulho nacional quando existem estas tomadas de atitude que, se nada mais, reforçam a nossa pequenês? Como é que me podem pedir para ter orgulho em pertencer a um país cujos feitos mais notáveis ficaram para trás na história de há 500 anos? Ainda hoje se comemoram os descobrimentos, porque, para ser franco, pouco mais temos para mostrar à história do que essas efemérides. Pelo menos, que nos faça sentir orgulho.
Acham sinceramente que em Inglaterra eu andava pela rua a gabar-me de ser português, só porque o treinador do Chelsea é meu conterrâneo? Não consigo imaginar as pessoas a rodearem-me e a pedir o meu autógrafo por causa de facto tão inconsequente. Parece que qualquer pedrinha da sarjeta que tenha a nossa bandeira é motivo de orgulho no plano internacional...

Nacionalismos não, obrigado!

2 comentários:

Alexandre Vilarinho disse...

Foi Liverpool - Chelsea já que o jogo foi em Anfield Road (mero facto).

O futebol, tal como qualquer desporto/jogo, é realidade, quer se queira/goste, quer não. Move multidões. Quando visto sem fanatismos (sim, é possível), é salutar.
Futebol, hoquei, voleibol, ténis, polo, andebol, basket, o que seja...
Não podes acusar o desporto de falsa realidade (ou referes-te só ao futebol?) dentro desta variedade ou mesmo os Jogos Olímpicos que cada vez, são a união dos povos e onde a cor menos interessa.

Falsa realidade são reality shows em que um encornou o outro e depois leva flores mas afinal até já não queria nada com ele...

Mas não confudas os dois...

Sobre os nacionalismos, aí sim, concordo PLENAMENTE contigo... Perdeu. Sim, e depois...?
Abertura de telejornal quando o jogo tinha dado no MESMO canal há 10 segundos...?

Haja pachora...

Alexandre Vilarinho disse...

Uma notícia caracteriza-se por tipo. Desporto é uma categoria. Logo, é notícia.
Como tu não gostas de futebol, é mais fácil de te subtraires da paixão que ele engloba.
Não vou, portanto, por em causa o que tu aprecias nem acusar de "falsidade" só porque não me interesso.

A VERDADEIRA questão aqui é se seria motivo de abertura de telejornal...
Num país civilizado, NÃO! Acho ofensivo, até.
O que é um país civilizado? USA? Qualquer final de Superbowl/Basketball/Baseball é abertura de jornal, acredita.

Como cada qual tem a sua opinião, encerro aqui o meu comentário.